segunda-feira, 6 de novembro de 2023

O dia que não acabou

 

 

Há 15 anos, aquele 02/07/2008 foi provavelmente o dia mais triste da história do Fluminense. Havíamos chegado à final da Libertadores pela primeira vez, eliminando o São Paulo e Boca Juniors pelo caminho. Na final, caímos no pênaltis para a LDU, um time comum cuja principal arma era jogar na desumana altitude, e a arbitragem criminosa do argentino Héctor Baldassi, que não marcou pênalti claro em Washington e foi conivente com a cera dos equatorianos. Mas saímos fortes, de cabeça erguida, sabendo que um dia voltaríamos para buscar o que deveria ter sido nosso. E, para muitos, aquele 2 de julho nunca havia terminado...

Vi muitos times brasileiros, inclusive o rival, levantar a taça, e sempre me perguntei “Quando será nossa vez”? Os deuses do futebol não podiam ser eternamente injustos conosco...

Chegamos a jogar a Libertadores novamente em 2011, 2012 e 2013, duas vezes como campeão brasileiro, mas em nenhuma dessas fomos além das quartas...

Com a saída da Unimed, tivemos uns anos de vacas magras, e só voltamos à competição continental em 2021, na gestão Mário Bittencourt, que priorizou a responsabilidade financeira acima de tudo. Mas, novamente, não obtivemos êxito neste ano nem no seguinte.

E também vimos nosso rival e o Palmeiras receberem investimentos milionários, montando assim elencos caríssimos, e ambos levaram 2 Libertadores cada de 2019 até aqui. Também, com a crise econômica na Argentina, houve uma considerável disparidade financeira entre nós e nossos “Hermanos”, o que nos fez ter considerável superioridade sobre eles, algo inimaginável no início da década de 2000, onde o Boca Juniors de Carlos Bianchi era praticamente imbatível e metia medo em todo mundo. E, assim, o Brasil havia conquistado 4 títulos seguidos...

Em 2022, então com Abel Braga, sem dúvida um dos maiores treinadores da nossa história, campeão brasileiro e então bi carioca, ganhamos o estadual pela 3ª vez sob seu comando, em cima daquele rival que somos acostumados a bater desde 1912, com o elenco milionário deles, e que ainda viria a ganhar novamente a Libertadores neste ano. Mas, no que era mais importante, não conseguimos chegar à fase de grupos deste torneio, caindo para o Olímpia nos pênaltis, após um jogo de postura medíocre da equipe, que apenas se defendeu. Assim, Abel Braga foi demitido, e veio Fernando Diniz, de volta após uma passagem em 2019 e em 2002 como jogador. Dono de um estilo de jogo pouco ortodoxo, e as vezes até perigoso, com muito toque de bola, se iniciando desde a saída de bola na defesa, e jogadores podendo se movimentar por qualquer lugar do campo, Diniz sempre foi alvo de muitas críticas, onde falavam que até então nunca havia conquistado nada, que jogava bonito mas não ganhava títulos.  

Para 2023, na reta final do Carioca, trouxemos de volta Marcelo, cria da base de Xerém (inclusive tendo marcado o gol em que estive no Maracanã pela primeira vez, em 2004), e que jogou aqui até 2006, onde se transferiu para o Real Madrid, e se tornou um dos jogadores mais vitoriosos da história do futebol, vencendo 5 Champions League e vários Campeonatos Espanhóis. Jogador de qualidade absurda nos passes e de habilidade inquestionável, sua chegada trouxe esperança à torcida de enfim conquistar a glória eterna e soltar o grito de campeão que estava entalado há 15 anos.

Mas, antes, conquistamos o bi carioca em cima do nosso rival, um 4 x 1 histórico neles, com show de Marcelo e de toda a equipe, numa pura demonstração do “Dinizismo”.

E havia chegado a hora de focar na Libertadores novamente... estreamos contra o Sporting Cristal do Peru, uma convincente vitória por 3 x 1 fora de casa, e GermánCano, nosso atacante com um faro de gol incrível e com uma qualidade impressionante no chute de primeira, inclusive já tendo feito gol do meio de campo no Vasco, marcou seus primeiros 2 dos 13 tentos que marcaria no torneio...

O time também tinha grandes jogadores como Árias, Keno, ambos pontas muito habilidosos, Paulo Henrique Ganso, meia armador com extrema categoria nos passes, Fábio, veteraníssimo goleiro de 43 anos, mas ainda um verdadeiro paredão, Nino, nosso excelente zagueiro já com 4 anos de casa, e André, nosso leão incansável no meio de campo, ladrão de bolas e também com excelente passe. E o que falar do garoto John Kennedy, com apenas 21 anos, que o treinador Fernando Diniz precisou “recuperar” após se envolver com muitos problemas pessoais?

Depois da vitória contra o The Strongest, enfrentaríamos o poderoso River Plate pela 3ª rodada. E em mais uma atuação de gala, em que fez todo o continente voltar a atenção para nós, aplicamos a maior goleada sofrida pelo River na história da Libertadores, um 5 x 1 inapelável com 3 gols de Cano.

Nos jogos seguintes, caímos de rendimento e só garantimos a classificação na última rodada, após um empate nervoso contra o Sporting Cristal em casa.

Pelo chaveamento do mata-mata, pegamos o Argentinos Juniors nas oitavas. E como qualquer confronto com argentino, não poderia ser fácil. Já havíamos os enfrentado em 2011, onde nos classificamos em cima deles com gol de Fred no final, e no fim do jogo houve um "quebra quebra" vergonhoso por parte deles, que não souberam perder.

O jogo de ida foi na casa deles, um campo minúsculo, onde saímos perdendo, e pra piorar, no 2° tempo, ainda perdemos Marcelo, expulso num lance extremamente infeliz. Assim, tudo parecia perdido, a equipe argentina poderia ampliar e liquidar a fatura, mas aí os deuses do futebol começaram a aparecer para nós pela primeira vez... Numa bola enfiada, o goleiro deles fez falta fora da área e foi expulso. E para nossa sorte, já haviam feito as 5 substituições e um jogador de linha teve que ir para o gol. Novamente em igualdade numérica, Samuel Xavier acertou um chutaço de fora de área, indefensável, empatando a partida e nos fazendo respirar aliviados. 

A volta no Maracanã, para variar, foi um jogo bastante nervoso e catimbado. Até os 43 do 2° tempo, estava 0 x 0, com todos já na expectativa dos pênaltis, e novamente Samuel Xavier, iluminado, acertou uma bomba para estufar as redes, e pouco depois John Kennedy fechou o caixão dos argentinos, para nosso alívio. Algo parecia estar diferente dessa vez... 

 Poderíamos ter enfrentado nosso rival Flamengo nas quartas de final, mas eles tremeram com a possibilidade de nos enfrentar novamente e tomarem outra de 4, e caíram diante do fraco time do Olímpia, restando a nós enfrenta-los e enfiando um inapelável 5 x 1 no agregado, com grandes atuações de Cano e John Kennedy em ambos os jogos. Aquele mesmo Olímpia, que havia nos eliminado em 2013 e 2022, finalmente estava vingado.

Na semifinal, o adversário era o bom time do Internacional, então bicampeão da América, que havia mudado de treinador recentemente e que estava em ascensão. No jogo de ida no Maracanã, saímos na frente, com mais um gol do matador Cano, mas com a expulsão do outrora herói Samuel Xavier, que teve seu dia de vilão, ainda no 1º tempo, os gaúchos empataram e viraram no 2º tempo. Tudo parecia estar novamente perdido, o time estava acuado e o Inter mais próximo do 3º gol e matar a partida, mas nosso guerreiro Germán Cano estava lá mais uma vez, num gol de pura raça empatar a partida e levar a decisão para Porto Alegre.

E, uma semana depois, ocorreu a que pode ser facilmente chamada de “A Batalha do Beira-Rio”. O Inter, empurrado por sua torcida, abriu o placar logo aos 10 minutos, e o Flu seguiu irreconhecível por todo o 1º tempo, não conseguia chegar ao ataque e nada dava certo. No 2º, EnnerValencia perdeu 3 chances claras de matar o jogo pros colorados, e quando tudo parecia perdido novamente, a bênção de João de Deus veio e empatamos com gol de John Kennedy, aos 35’ do 2º tempo. Momento de êxtase total para toda a torcida tricolor pelo Brasil, o sonho ainda vivia. E, apenas 6 minutos depois, sempre ele, GermánCano, provavelmente o jogador com o chute de primeira mais letal da história do Fluminense, fez o gol da virada. Ali, eufórico em meio à comemoração dessa virada totalmente improvável, eu tive a certeza que a nossa vez de conquistar a glória eterna havia chegado. Não havia como os deuses do futebol escreverem um roteiro tão perfeito sem um final feliz dessa vez.

E, como grande roteiro que era, a final em jogo único estava marcada justamente para o Maracanã, o maior do mundo, a nossa casa. E o adversário seria o Boca Juniors, sem dúvidas a camisa mais pesada do continente, com 6 títulos e 12 finais, mas longe do outrora temido e poderoso time. Neste ano, mostrando um futebol limitadíssimo, chegaram à final empatando todas as 6 partidas até aqui do mata-mata, avançando sempre nos pênaltis, ou seja, mais por mérito individual do goleiro Romero do que da equipe.

Nosso treinador Fernando Diniz havia criado uma maneira inusitada de motivar a equipe: ele sempre perguntava “que dia era hoje?”, e a resposta tinha que ser, independente da data que realmente era, “4 de novembro”, a data da final. Isso certamente ajudou a mentalizar nos jogadores que todo dia deveria ter mentalizado qual era o principal objetivo do ano, o maior sonho de todos nós, o momento de cicatrizar 2008.

E o tal 4 de novembro chegou. Sábado, 17h. Não faltavam motivos para acreditar no título. E, para falar de coincidências, o Boca Juniors havia perdido todas as 3 finais que havia feito contra times que nunca haviam ganhado a Libertadores: para o Olímpia em 1979, Once Caldas em 2004 e Corinthians em 2012. Será que a sina se repetiria?

A confiança da torcida tricolor era enorme. O Maracanã estava lotado, com ampla maioria tricolor, e como dizia Nelson Rodrigues, “quando o Fluminense precisa de número, acontece o suave milagre: os tricolores vivos, doentes e mortos aparecem. Os vivos saem de suas casas, os doentes de suas camas e os mortos de suas tumbas.” E eles estavam todos lá, para mostrar quem manda no Maracanã e iria mandar na América. Sobramos no 1º tempo, e aos 38 minutos, Cano, sempre ele, com seu chute de primeira mortal, abria o placar. Êxtase total no Maracanã, estávamos a 45 minutos da glória eterna!

Mas, no 2º tempo, os deuses do futebol haviam preparado os últimos percalços antes da vitória final. O Fluminense recuou, e o Boca foi criando chances e mais chances, até que Advíncula empatou aos 30 do 2º tempo. Silêncio total na nossa torcida, nessa hora foi impossível não se lembrar de 2008. Será que a história ria se repetir?

Diego Barbosa ainda perdeu a chance do gol do título, no último lance do jogo, e foi para a prorrogação.

Antes de continuar, gostaria de comentar brevemente a atuação vergonhosa de Wilmar Roldán, arbitro colombiano que fez as vezes de Héctor Baldassi e nos assaltou com seu apito, não aplicando nenhum cartão amarelo para o Boca que bateu muito no 1º tempo, e ignorando um pênalti clamoroso em Árias. Desta vez, com VAR e tudo, torna tudo mais vergonhoso.

Mas, dessa vez estava escrito. Seria tudo nosso. Não havia árbitro, nem ninguém para tirar nosso título. Como dizia André Luiz, youtuber do canal “Sentimento Tricolor”, “2023 seria o ano da redenção”. E foi, o momento que deveria ter acontecido há 15 anos se concretizou.

No 1º tempo da prorrogação, aos 5 minutos, o garoto John Kennedy, cria de Xerém, estava destinado a fazer o maior gol da história do Fluminense Football Club. Após boa troca de passes, Keno ajeitou de cabeça para John Kennedy, furioso, fuzilar um balaço de fora de área no canto rasteiro esquerdo de Sérgio Romero. Foi o gol que veio com 15 anos de atraso, com uma força proporcional à vontade de milhares, milhões de tricolores Brasil afora que sonhavam, ansiavam esse título que havia se perdido em 2008 naquele dia que nunca acabou. E sem dúvidas, o gol mais comemorado da minha vida, onde rolaram lágrimas de alegria, e também de justiça, pois ninguém merecia mais o título do que nós.

A partir daí, o relógio virou nosso inimigo, e após mais 18 longos minutos, de muita pressão do adversário e a demora do árbitro em decretar o fim de jogo, o apito final veio! Enfim, com toda a justiça, e com 15 anos de atraso, o Fluminense, instituição centenária, clube pioneiro no futebol do Brasil, conquistava a Libertadores. O maior sonho de todos nós enfim se realizava, e aquele 02/07/2008 finalmente acabava. Os deuses do futebol fizeram justiça, para desespero dos nossos rivais, da imprensa ufanista argentina e também da Conmebol, que fez de tudo para evitar o 5º título brasileiro consecutivo!

Conquistada a tão sonhada glória eterna, garantimos vaga no Mundial de Clubes deste ano, e no de 2025, onde será disputado em novo formato com 35 equipes. Por que não sonhar com o bi mundial em cima do Manchester City? Podemos enfrentar um dos melhores times e um dos melhores treinadores de todos os tempos, e no futebol tudo é possível. Vamos à Arábia buscar mais um sonho!

Também garantimos vaga na Libertadores do ano que vem, e na Recopa Sulamericana, e nosso adversário será aquele infame clube equatoriano cuja sigla não gostamos de pronunciar. Certamente, os deuses do futebol ainda prepararam algo mais para nós. A vingança tem que ser completa, falta vingar 2008 em cima de quem nos tirou, pra cima deles!!

Feliz 03/07/2008 para todos nós, o amanhã daquele dia finalmente veio! Esperamos, e alcançamos!

E viva o Fluminense, o clube tantas vezes campeão, o time de guerreiros, que já desafiou a matemática, tetracampeão brasileiro, agora Rei da América!

"Grandes são os outros, o Fluminense é enorme."

 Nelson Rodrigues

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Crítica de "Homem Aranha Sem volta para casa"

 


 

 

O terceiro filme do aracnídeo no UCM foi cercado de expectativas desde o início da produção, com os boatos de um Aranhaverso em live action após o sucesso da animação vencedora do Oscar 2019. Os fãs sonhavam em ver Tobey Maguire e Andrey Garfield de volta ao papel, com direito a recorde de venda de ingressos para a pré-estreia e derrubando vários sites pelo mundo. No momento, o longa se encaminha para ser o primeiro pós pandemia a passar da marca de 1 bilhão de dólares na bilheteria.

Partindo exatamente de onde o anterior parou, com Mysterio revelando a identidade do herói ao mundo, Peter vê as consequências atingir todos ao seu redor. Contando com a defesa de um advogado “especial”, ele consegue sua inocência, mas como seus amigos ainda foram diretamente prejudicados pela ligação com ele, decide buscar ajuda do Dr Estranho para fazer todos esquecerem que ele é o Homem Aranha...

Se baseando na HQ “Um dia a mais”, o primeiro ato é muito rápido, contendo bastante humor (alguns muito fora do tom como Flash Thompson), participações especiais e as consequências da exposição de sua identidade para com todos ao seu redor, traçando um paralelo com as fake news da vida real. Mas o feitiço dá errado e isso acaba trazendo vários vilões de outra realidade que sabiam a identidade do Homem Aranha. É muito bom ver os vilões clássicos interpretados por Willem Dafoe e Alfred Molina de volta. Todos eles ganham um novo visual, e a atuação de Willem é realmente impressionante, tornando se ainda mais assustador sem a máscara. Jamie Foxx também está de volta como Electro, numa versão bem melhorada comparada a Amazing Spider Man 2. Rhys Ifans e Thomas Haden Church, como Lagarto e Homem-Areia, respectivamente, são o ponto baixo, sendo subaproveitados, aparecendo apenas em CGI e com cenas reutilizadas dos filmes originais.

Tudo do que os fãs mais reclamavam se resolve aqui. Peter Parker finalmente amadurece, aprendendo o valor da responsabilidade, após a perda de um ente querido. Também vemos ele enfim se desvencilhar de Tony Stark, que neste universo acabou por ser uma figura paterna para o mesmo, se aproximando de vez do Homem Aranha clássico das HQs que faz seu próprio traje e tem problemas de gente comum como pagar o aluguel.

O ato final é memorável, trazendo de volta personagens muito queridos pelos fãs (e, diga-se de passagem, foi um momento marcante para mim, remetendo diretamente à minha infância), onde o filme brilha. Um deles está claramente empolgado com o retorno, e já há pedidos do público para um último filme com este, que é devidamente merecido. Tem fan services excelentes, na medida certa, inclusive um momento de redenção, e usando da metalinguagem em alguns momentos como se fossem os próprios fãs falando.

Jon Watts mostra uma evolução considerável na direção neste filme. Enfim vemos seu “toque pessoal”, com o uso de câmeras em 360º em alguns momentos, e temos cenas de ação muito bem dirigidas, assim como as de drama, apesar de ainda continuar com o excesso de CGI em alguns momentos.

Tom Holland está excelente no papel, mostrando versatilidade quando necessário, e Zendaya e Jacob Batalon continuam bem como MJ e Ned, respectivamente. Benedict Cumberbatch faz o básico como Dr Estranho, que não tem uma participação tão grande como parecia pelos trailers, mas é compreensível visto que o próximo filme é o dele.

Mesmo com a produção tendo passado por muitos problemas nos bastidores, com várias mudanças no roteiro, prazo apertado para ser finalizado, e muitos vazamentos da trama pela internet (muitos provando-se reais) e sendo cogitado inclusive o adiamento, os roteiristas conseguiram fazer tudo encaixar praticamente de forma perfeita, tirando um ou outro momento que soou forçado, o filme fecha muito bem a trilogia do amigo da vizinhança no UCM, mostrando-se o melhor filme do Aracnídeo em live action desde Homem-Aranha 2 e abre caminho para o futuro com muita coisa em aberto, nos deixando ansioso para mais. Que venha a trilogia da faculdade!

“Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”

Nota: 9

sexta-feira, 5 de março de 2021

Crítica de "Wandavision"


 

 

 Com um ano de atraso e mudança de planos devido a pandemia, a Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel se iniciou com Wandavision, uma série de TV para o Disney+, formato inédito para a Marvel Studios até então, trazendo mais uma inovação para a história de sucesso que já é contada há 13 anos.

Homenageando sitcoms americanas, da década de 1950 até os dias atuais, passando por The Dick Van Dyke Show, Feiticeira, Modern Family, entre outras, a história se passa 3 semanas após Vingadores Ultimato, onde Wanda Maximoff, muito abalada após perder seu namorado Visão e ter passado 5 anos “blipada” após o estalo de Thanos, acaba criando uma realidade paralela, chamada de “Hex” com uma vida perfeita junto ao namorado sintozoide na pequena cidade de Westview, que ela sempre pretendeu ter.

Retratando muito bem cada época, seja pelo cenário, o machismo presente na sociedade, figurino e até as gírias, cada episódio, com exceção do 4º, retrata uma década, desde o formato de tela 4:3 até chegar nos dias atuais e voltar ao estilo tradicional 16:9, inclusive com o uso do widescreen para as cenas fora do Hex.

Estrelando Elizabeth Olsen e Paul Bettany, ambos excelentes como o casal protagonista, com Paul mostrando um lado cômico que não havia sido visto antes, a história vai sendo contada em episódios em torno de 40 minutos, pecando em alguns momentos por soluções simples de roteiro e muitas pistas falsas colocadas durante vários momentos. Completam o elenco Kathryn Hahn como Agnes/Agatha Harkness, a vizinha intrometida que futuramente é revelada como a grande vilã, que está muito à vontade no papel e que também possui excelente timing cômico. Teyonah Parris estreia como Monica Rambeau, já vista criança em “Capitã Marvel” e que se torna a Fóton, a nova heroína do MCU. Randall Park e Kat Dennings retornam como o Agente Woo e Darcy Lewis, mas seus personagens são subaproveitados e não possuem nenhum desenvolvimento. Evan Peters é a grande surpresa na série, que gerou muitas expectativas nos fãs, mas no final acabou sendo frustrante. Julian Hilliard e Jett Klyne interpretam Billy e Tommy, os filhos da Wanda com poderes de telecinese e supervelocidade, gerados de maneira peculiar, ambos bem carismáticos e que certamente se juntarão aos Vingadores no futuro como Wiccano e Célere. E Josh Stamberg interpreta o Diretor Hayward, diretor da SWORD, uma agência nos moldes da SHIELD que acaba se revelando apenas mais um vilão genérico.

Bebendo da fonte dos quadrinhos como “Vingadores A queda”, “Dinastia M”, e outros, a série adapta vários aspectos do material original, mas toma a liberdade de seguir seu próprio caminho, o que não é ruim, mas muitas entrevistas dos atores, envolvidos na produção e o próprio roteiro com pistas falsas acabaram por gerar um hype muito maior do que deveria, e no episódio final, onde enfim vemos a transformação da Wanda em Feiticeira Escarlate (assim nunca chamada antes por problemas coma Fox pelos direitos da personagem) pouca coisa se concretiza e ainda sobram muitas perguntas a serem respondidas. Houve expectativa de uma participação do Dr. Estranho, do Mephisto, inclusive com várias citações ao diabo, mas não passaram de fan services. O que Paul Bettany falou acerca do ator misterioso que ele sempre quis trabalhar e quem realmente era foi muita sacanagem...

Com um último episódio competente, mas não perfeito, a série no geral cumpre bem seu papel, de explorar o luto da Wanda pós estalo, afinal “o que é o luto senão o amor que perdura”, mas ainda deixa muitas pontas soltas que poderiam ter sido respondidas aqui. Que fique a lição do que não deve se repetir futuramente...

Dirigida totalmente por Matt Shakman, algo incomum para uma série de TV que geralmente alterna os diretores, este fez um trabalho competente, com os episódios possuindo um bom ritmo, cada um com suas particularidades, exceto nas cenas de ação do último episódio, onde com cortes bruscos acabou comprometendo um pouco a qualidade das lutas e sua total imersão.

Mal teremos tempo para absorver o fim de WandaVision, pois em 15 dias já teremos “Falcão e o Soldado Invernal”. Até lá!

Nota: 8,5